Gente, como aquilo era engraçado! Eu ria, ria muito. Ria muito pelo fato de nem saber quem ele era.
Ria por dentro.
Bom. Eu estava, como quem não quer nada, na praia, sozinha, como eu sempre fazia. O vento penteava, de uma forma que eu adorava, meu cabelo. Eu andava, quase fechando os olhos, afundando os pés na areia, devagar... até que uma música me chamou a atenção. Era um garoto, tocando violão em cima do telhado de umas das casas que tinham por ali. Passei, direto, pensando em como aquele menino era louco. Desde quando alguém sobe num telhado pra tocar violão? Por um momento, me distraí, e depois, já não me permitia a pensar demais nele.
Voltei à aquele lugar várias vezes depois daquela, e o louco estava lá, do mesmo jeitinho, tocando a mesma música bonitinha; que à essa altura, já era a minha preferida. De uma forma tão louca quanto o garoto, eu aprendi a cantar também.
Um dia qualquer, em que fazia um certo frio, passei ali de novo, bem devagar, pra curtir o louco cantor.
Mas ele não tocava. Estava parado, olhando para mim. Por um momento, parei. E olhei para ele também. Ele desviou o olhar.
Respirei.
Cantei. É, cantei. Cantei a música dele, tão louca feito ele, alto, pra ele escutar.
Consegui enxergar ele sorrindo, e, cantarolando comigo. Pegou o violão que estava do seu lado, e começou a tocar também. Cantávamos, cantávamos, cantávamos.
Eu dava passos para frente sem perceber, até que estava no jardim da casa dele.
Ele, já estava na ponta de cima da escada que ficava perto da porta, tocando.
Aí eu já conseguia ver o formato do seu rosto, ouvi-lo melhor. Ele sorria, eu também. Éramos cúmplices.
Eu, tão louca feito ele, subi a escada. Sentei-me ao seu lado.
O vento ali era melhor. A maresia era reconfortante.
Por horas, ficamos ali. Por fim, sem dificuldade ou receio, nos beijamos. Sorríamos de novo, cantávamos de novo, beijávamos de novo.
Gente, como aquilo era engraçado! Eu ria, ria muito. Ria muito pelo fato de nem saber quem ele era.
Ria por dentro. E ele, desse jeito, ria comigo, louco. Meu louco preferido.
Pauta para Projeto Bloínquês