26 de jan. de 2013

Chiaroscuro


Aqui o mundo é sereno. A noite não é fria nem quente, o céu não é escuro nem claro. A vida é um chiaroscuro impressionista. Não há nada lá fora e nós somos apenas um reflexo exagerado desse exterior. Sentimentos demais que aprendemos a transformar em poesia para ser admirada por outros de alma notívaga.
         
Alguns goles de café, às vezes chá. As gotas caem nas folhas dos estudos sobre uma pesquisa desordenada; as pálpebras caem junto. As frases ficam confusas e o impressionismo afinal se torna simbolismo e enfim surrealismo. Os sentimentos mistos são apenas códigos sinestésicos, são cores e são uma série de definições desnecessárias criadas para burocratizar a nossa mente: sentir é codificar. Tentamos decodificar esse nosso sentir de poeta e afinal o que seríamos sem as palavras para definir? Mas afinal, por que não podemos viver sem a palavra?
         
É tudo imposição governamental, individual ou não. O simbolismo da decodificação dos sentimentos é um socialismo, é um estado de revoltas e questionamentos que nos ligará ao comunismo do surreal. Surreal é sermos todos iguais, é não termos um idioma para comunicarmo-nos entre si; sem uma linguagem ninguém se impõe sobre ninguém e todos somos iguais. O comunismo é o surrealismo que é a mudez. O primeiro é um sonho usado como objetivo, o segundo é o sonho como meio e o terceiro é a essência do verdadeiro sonhar sem ser manipulado por dialética alheia. Comunidade é ter a boca tapada por uma ditadura.
         
Não existe futuro para um escritor que não possa usar dos seus domínios sobre a língua. Não há motivação para o indivíduo que seja obrigado a viver como todos os outros apesar de seus ócios ou esforços. Comunidade é ser maquinal, é servir indiretamente ao governo de uma única criatura. É tirar o poder da mão de muitos e dar a um. Pois reivindico ao meu direito de comunicar-me e de ser diferente.
         

Reivindico meu direito de sonhar e ser confuso, sonhar e ser difuso. Direito de conhecer e informar, direito de construir. Reivindico meu direito de iluminista e de romântico. De conhecer e escrever. De sentir e dar o nome que eu bem entender aos meus sentimentos. Reivindico o direito da virtude aristotélica. Reivindico o direito de ser meu próprio governo.


24 de jan. de 2013

"MAIS UMA MORTE NA PERIFERIA DA CAPITAL"


Estava andando distraidamente pela rua quando chegaram atirando. Dois de moto no rapaz sentado na calçada. No choque logo que os vultos desapareceram no horizonte máximo que se pode enxergar no horror e na noite, começou a gritar ordenando que ligassem para a polícia, desesperada. Vizinhos caíam pelas janelas ou se embestavam porta afora, as crianças eram escondidas. Todos queriam saber o que havia acontecido. O que havia acontecido?
         
Chegou a polícia e também os investigadores, todos queriam saber além do que a própria mulher era capaz de compreender. Horas de inferno na delegacia -- o que afinal acontecia? A culpa era de bandido ou era de polícia? A culpa era de traficante ou era de milícia?
         
Centenas de mortos nas madrugadas do último mês na cidade. A guerra civil entre criminosos e policiais não tinha limites e não parecia sequer ter ideais. A mulher não sabia de quem era a culpa naquela noite ou em qualquer outra, só sabia que um adolescente que morava duas ruas abaixo da dela fora baleado na sua frente. Era educado e trabalhava, ela nunca ouvira boatos de ele estar envolvido com droga -- com tráfico então ela sequer conseguia imaginar. Mas ele estava sozinho em seu portão, em seus últimos minutos olhando o luar.
         
Por que alguém mataria jovem sem indícios de má índole? Puro terrorismo, fascismo ou ele escondia mesmo segredos? Todo mundo queria saber, todo mundo queria investigar. De alguma forma ela era um ponto chave no direcionamento e fim dessa onda de terror e ela própria na fúria de suas lágrimas assustadas queria pegar o responsável por tal crime -- pois independentemente da posição social, assassinato é crime seja aqui seja em Guiné Bissau. Mas o saber e o opinar, que mesmo a uma mulher tão simples era de quase impossível acesso, valia tanto quanto a vida dela naquelas circunstâncias.
         
-- Você tem alguma suspeita de quem possa ser o culpado? Não viu a roupa, não viu nenhum fardo?
         
-- Não senhor, eu só ouvi o disparo
         
-- Não reparou em nenhum rosto?
         
-- Não senhor, só vi as sombras e depois o morto.
         
A mulher estava ilhada. Sua única opção era não saber de nada, responder algumas perguntas e então ir para casa. Para ela podia ser tanto policial quanto traficante, mas que diferença faria? Qualquer suspeita e sua cabeça seria a única que voaria, despencaria com tiros como o do jovem negro na calçada, mais um pescoço que sangraria. Mais uma morte qualquer que o jornal estamparia, nem mais na primeira página iria e seu nome o repórter ainda erraria. O crime já havia se tornado tão comum que entre morrer pela arma do bandido ou do militar, ela preferia ficar em silêncio e ir para sua velha cama na favela deitar e chorar.


23 de jan. de 2013

O caminho


Meu medo acabou, meu amor. Enquanto o mundo gira sob nossos pés, eu tenho ainda mais certeza de que é você quem eu quero para mim. Aliás, ainda bem que o mundo dá voltas... de novo. No final, nada é errado se te faz feliz. O passado não é tão importante, afinal de contas, já não nos pertence mais; e com ele aprendemos o suficiente. Venho tecendo todos os meus planos que envolvam seu sorriso, suas mãos... você. Vejo um futuro, vejo felicidade a curto (e longo) prazo. Vamos atrás dela, vamos construí-la. Vamos ser felizes. O caminho já encontramos, agora falta trilhá-lo.

22 de jan. de 2013

Insuficiência

Me sinto vazia. Não tenho algo em que eu possa alicerçar minhas próprias vontades e anseios. Não creio que eles tenham a capacidade de suprir algo, muito menos a mim mesma. Só sei que eu preciso de mudança, mas não a vejo em lugar algum. Não a vejo no meu corpo (que não é como eu quero), na minha escrita (que não convence)... e eu só tenho a mim. Eu só dependo das minhas atitudes, dos meus méritos. E, já disse: não sou suficiente. Não sou capaz de fazer uma amizade duradoura, de fazer com que queiram minha companhia (só por querer). Não sou capaz de confiar na minha própria capacidade, muito menos acreditar que ela realmente existe.

Só quero que queriam que eu esteja por perto. Quero fazer a diferença. Quero ter alguém pra ligar, pra conversar. Quero contar como me sinto. Quando me casar, quero ter a quem convidar. Quero ser suficiente, nem que seja para mim. Quero acabar com essa minha insuficiência que eu sei que, no final, é só minha. 

E só depende de mim para que ela se esvaia. 
Só depende de mim para que eu seja suficiente, afinal. 

9 de jan. de 2013

O que te liberta?


O que significa liberdade pra você? O que é ser livre?
Uns dizem que é fazer o quer quer, quando quer, porque quer. Mas sera só isso?
A palavra Liberdade me da uma noção de imensidão, respostas, como essas, são pouco.
Liberdade é muito mais do que viajar por ai, sem destino, sem aviso, sem data de retorno.
É estar aberto a todo tipo de opinião, aceitar diferenças. É dar a sua mente possibilidade de se expandir. Liberdade é experimentar, conhecer.
A Liberdade lhe da uma independência de sentir qualquer dos sentimentos, de criar, de ir, de vir, de falar, de ouvir. Lhe da a possibilidade de amar. Amar a vida, amar a si mesmo, amar os outros. Liberdade não é solidão, é compartilhamento de qualquer coisa com você mesmo ou com qualquer um. Liberdade é respeito, por você, por todos, pela vida.
É isso o que, talvez, seja o conceito de Liberdade pra mim.
Mas ainda não é suficiente!
Porque se eu me contentar apenas com essa conclusão, eu não seria livre.